Um flagrante de 1988

    0
    172

    A eleição de 1988 foi emblemática, tanto por que precedeu o primeiro pleito direto para a presidência da República, desde o golpe militar, em 1964, quanto por que foi a primeira após a promulgação da Constituinte. Em Santa Catarina, uma onda de políticos alinhados à direita (coligações PDS/PFL) foi consagrada pela população: Esperidião Amin em Florianópolis, Vilson Kleinübing em Blumenau, Luiz Gomes em Joinville, Milton Sander em Chapecó, Altair Guidi em Criciúma e Raimundo Colombo em Lages.

    Era meu primeiro ano à frente da sucursal do Jornal do Brasil em Santa Catarina e, portanto, minha primeira experiência eleitoral. Um jornal de critérios rigorosos na cobertura – seja na apuração ou no distanciamento ideológico dos candidatos. Meu editor de Política era o jornalista Marcelo Pontes, mas eu também fornecia material para a coluna Informe JB, assinada por Ancelmo Góis e tinha como baliza os textos memoráveis de Carlos Castello Branco, na histórica Coluna do Castello.

    O ambiente político era péssimo: inflação galopante, recessão, desemprego e insegurança jurídica. José Sarney não tinha legitimidade ou credibilidade. O PT ainda engatinhava em seu projeto de poder e não se mostrava como alternativa, embora tenha conquistado a prefeitura de São Paulo, com Luiza Erundina.

    Na foto, no dia da eleição, em 15 de novembro, o advogado Wilson José Darella, que trabalhava para o PMDB, era conduzido pelo então Cel. PM Gilberto, por alguma desavença que ocorreu no interior do Instituto Estadual de Educação, que concentrava o maior número de seções eleitorais de Florianópolis. Estou no primeiro plano, de camiseta da grife Rupestre, que fazia campanha em defesa das milenares inscrições encontradas no litoral catarinense. Ao meu lado, à direita, a repórter Maria Celeste, então do Núcleo Globo da RBS TV (atual NSC), que se transferiu para Curitiba e deixou saudades. Atrás de mim, semicoberto, o jornalista Fábio Gadotti, atual colunista do Notícias do Dia, que, salvo engano, estava no jornal A Notícia. À esquerda, minhas amigas Beth Bieging, da TV Barriga Verde, e Lena Obst, acho que pelo (também extinto) jornal O Estado. A foto é do Roberto Scola, amigo e excelente repórter-fotográfico do Diário Catarinense.

    Darella foi à delegacia e liberado na sequência. Por coincidência, é irmão da médica Maryângela Darella, a competentíssima acupunturista que cuida das minhas (muitas) dores.

    Não faço a menor ideia de como a foto chegou às minhas mãos, mas é uma bela lembrança daquele momento político.

     

    Carlos Stegemann, jornalista