Os jornalistas e as feras

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    Objetivamente: em 40 anos que exerço a profissão, nunca testemunhei tamanhas hostilidades a jornalistas no Brasil. A situação lembra cobertura de farra do boi – quando chegam os repórteres, esquecem o boi e atacam a imprensa. Ou algo como quando estive em um garimpo: o fotógrafo ajustou o equipamento no olho e ouviu que perderia a máquina e o olho se registrasse o fato.

    Os xingamentos, ameaças e agressões não partem de criminosos contumazes, quadrilheiros com armas nas cinturas, jagunços ou capangas. Mas de pessoas de aparência ‘normal’, cujos perfis não se distinguem na multidão. A motivação? A cobertura da mídia não os agrada. Agem como se fosse possível invadir a cozinha, ofender e esmurrar o mestre-cuca, diante da insatisfação com o prato servido.

    Desculpo-me pelo clichê, mas a pior imprensa é melhor que imprensa nenhuma.

    Desde que comecei a ler jornais e revistas com assiduidade, coisa de mais de 50 anos, testemunhei erros grosseiros da imprensa, como o da Escola Base, em São Paulo ou da ‘Gangue da AIDS’, em Florianópolis. Soube de jornalistas e meios de comunicação venais. No dia a dia, leio e ouço a língua vernácula ser massacrada por colegas de profissão.

    Todavia, saúdo a todos. A imprensa, afinal, é um dos aspectos que me faz sentir livre, que me proporciona a sensação material de que – apesar de tudo – estamos construindo uma democracia.

    Concluindo: ou enjaulamos as feras ou seremos devorados. Enquanto é tempo…

     

    Carlos Stegemann, jornalista