O vão central é uma luta em vão?

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    Por Carlos Stegemann (psicografando Nossa Senhora da Gramática), junho 2015.

    Nossa Senhora da Gramática sente falta da ala sul do Mercado Público de Florianópolis, notadamente do Box 32, onde era trivial a presença de escritores e afins, desde Sergio da Costa Ramos até Augusto Boal, passando pelo Raul Caldas, Jair Hamms, Domenico de Masi, Luís Fernando Veríssimo e Fernando Sabino, vários destes falecidos. A padroeira da língua vernácula, entretanto, tem sofrido mais com as agressões à última flor do Lácio do que com a demora da Prefeitura da capital em concluir o referido espaço. Um erro grosseiro e disseminado é o tal do “vão central”. Aurélio, fiel discípulo de Nossa Senhora da Gramática, explica que vão é um “Espaço vazio entre dois pontos, duas coisas. [Cf., nesta acepç., intervalo (1).] 10.Arquit. Nas paredes de um edifício, rasgo que corresponde às portas, janelas, etc.; abertura, envasadura. 11. Intervalo entre dois apoios de uma estrutura. [Sin., lus., nesta acepç.: tramo.]”. Ou seja, se está entre, já está no centro. Precisa redundar?

    Pelo jeito precisa, pois também na magnífica e octogenária ponte Hercílio Luz o “vão central” é quase tão protagonista quanto os aditivos contratuais e a embromação em sua reforma.

    Samuel Wainer, o lendário, contou em suas memórias que Carlos Lacerda, ‘O Corvo’, xingava sem dó quem escrevia ‘via de regra’ e ‘por outro lado’, por considerar ambas as locuções como vícios de linguagem. “Via de regra é a vagina e por outro lado é o ânus”, vociferava ele – usando verbetes bem mais chulos….

    Mas Nossa Senhora da Gramática não gosta do baixo calão. Padece quase em silêncio diante das costumeiras agressões à bela língua.