Marcos de Castro, a reverência à língua

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    Tive o imenso privilégio de conhecer e trabalhar com o jornalista e escritor Marcos de Castro por ocasião de minha passagem pelo Jornal do Brasil (1988 – 1992) e suponho que foi um dos profissionais que mais me impressionou, apesar do pouco tempo de convivência. Colega doce e generoso, com a paciência de ensinar sobre a complexidade e o encanto da língua portuguesa, sem prescindir da simplicidade e bom humor.

    Nunca me separei do livro ‘A Imprensa e o Caos na Ortografia’ (Editora Record, 1998), adquirido no lançamento, no qual minha leitura combina consulta, reflexão e diversão. Conforme frisa na apresentação, a obra traz “(…) um elenco dos erros, vícios de linguagem e vulgarismos em nossos meios de comunicação”. ‘Seu’ Marcos alertava, há 20 anos, que “(…) o português no Brasil caminha para a degradação total”, o que o fazia estar ameaçado de “(…) fenecer como língua de cultura (…)” e “passar ao estado tribal”.

    Quando visitei a redação do JB pela primeira vez, em março de 1988, vi aquele senhor discreto, de cabelos revoltos, vestido com modéstia, óculo caído sobre o nariz e um sorriso cativante. Não imaginava estar diante de um Mestre da língua vernácula. Redigia os obituários do JB com tons literários.

    ‘Seu’ Marcos deixou-nos aos 83 anos, no último dia 23 de setembro, depois de 60 anos de Jornalismo (JB, Jornal da Tarde, O Globo, O Dia, TV Globo, Enciclopédia Bloch, Manchete e Veja, entre outros veículos). Licenciado em Letras Clássicas pela Faculdade Nacional de Filosofia da antiga Universidade do Brasil, foi autor de livros como “Dom Hélder: Misticismo e Santidade”, “Gigantes do Futebol Brasileiro”, em parceria com João Máximo (outro ex-colega de JB), “A Igreja e o Autoritarismo” e “64 Conflito Igreja x Estado”:

    Faço minhas as palavras do também ex-colega de Jornal do Brasil, o competentíssimo Marcelo Auller: “Marcos foi um grande amigo. Um professor eterno. (…) Deixará um vazio no coração de muitos companheiros e amigos”.

    Ao longo da carreira, ganhou dois prêmios Esso. Mas seu maior reconhecimento está eternizado nas lições que deixou.

    Nossa Senhora da Gramática perdeu um de seus mais ilustres discípulos.

     

    Por Carlos Stegemann, jornalista