A magia das revistas, chegando ao fim?

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    O culpado foi meu pai, o velho Carlos Gerhard Stegemann, lá no final dos anos 1960, em Porto Alegre, quando trazia a ‘Folha da Tarde’ e por vezes a ‘Zero Hora’. Aos domingos, me fazia ir à banca mais próxima comprar o ‘Correio do Povo’, um volume imenso de jornal, entre notícias e classificados. Quando o assunto era imprensa, no Rio Grande do Sul, nada materializava melhor o verbete ‘tradição’ do que ler o ‘Correião’ aos domingos. Tornei-me um ávido leitor de jornal, devorando desde as colunas de cinofilia até o esporte e principalmente as editorias de internacional.

    Porém, o que cintilava diante dos meus olhos, a cada visita às bancas, eram as revistas. Fui subindo os degraus da longa escadaria da leitura deste maravilhoso mundo impresso. Desde as infantis do universo Disney, a Turma da Mônica, Bolinha e Luluzinha; depois os super-heróis da Marvel até chegar ao humor refinado e adulto de ‘Asterix’, que ainda hoje, mais do que ler, reverencio! Meu pai lia ‘Veja’, ‘Realidade’ e ‘Placar’; minha mãe, Teresinha, era fã da ‘Cláudia’ – e nas últimas páginas de cada edição desta publicação descobri as crônicas de Rubem Braga, por quem me encantei definitivamente.

    Cinquenta anos depois de minha alfabetização já não consigo enumerar as revistas que mais consumi e gostei, e incluí a ‘National Geographic’ como absoluta prioridade, desde que começou a circular em português no Brasil.

    Aprimorei esse gosto quando trabalhei na Editora Globo e produzi dezenas de matérias para a Globo Rural, Pequenas Empresas Grandes  Negócios, Globo Ciência (atual Galileu) e Marie Claire. Meu falecido chefe no Jornal do Brasil, o gaúcho e colorado Xico Vargas, dizia que as revistas eram a versão televisiva da mídia impressa. A imagem tem uma importância superlativa, a linguagem é mais leve e os textos aceitam um nariz de cera em detrimento do lead factual.

    Nos últimos dias a Editora Abril anunciou a extinção de diversos títulos e pouco depois comunicou ao mercado seu pedido de recuperação judicial. Muitas outras editoras também têm as versões impressas minguando ou já suspenderam em definitivo a circulação de revistas.

    É verdade que o mundo digital impôs severas perdas financeiras e a necessidade de mudanças (urgentes e radicais) ao meio revista. Também é verdade que, ao contrário dos jornais, perfeitamente consumíveis nas versões digitais, a sensação de ler uma revista na tela de um computador ou um smartphone está a anos-luz do prazer de folheá-la e lê-la demoradamente.

    Até que se extingam, serei um saudosista a visitar as bancas, fascinado pelo colorido das revistas.

    Carlos Stegemann, jornalista