Perdemos Valter Souza, um homem chamado televisão

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    Lembro de Valter Souza desde quando vi as primeiras imagens da TV Catarinense, primeiro nome que a RBS usou para operar em Santa Catarina. Convivi inúmeras vezes com ele, normalmente muito expansivo, costumava roubar a cena nas entrevistas coletivas, cheio de ímpeto e criatividade. Por vezes escorregava nas duas virtudes, mas jamais perdia a linha, ria de si mesmo e era educado e gentil com os colegas. Vê-lo rindo era uma redundância.

    Uma experiência nos marcou com maior ênfase: em 1987 saímos no Comandante Varella, uma embarcação da Marinha do Brasil, de pequeno porte, destinada a promover reparos em faróis próximos do litoral. Eu trabalhava no extinto jornal O Estado e ele na então RBS TV – e tínhamos a companhia de colegas como Antonio Gaudério (fotógrafo) e Margareth Lourenço (repórter) do Diário Catarinense, entre outros, além das biólogas da Fundação de Meio Ambiente, Beloni Pauli e Lenir Alda do Rosário, ambas experts em pássaros.

    A missão era acompanhar a devolução de pinguins resgatados nas praias para o alto mar, na esperança de que as correntes o fizessem voltar ao extremo sul do continente americano. O passeio era para ter durado algumas horas, deveríamos voltar no fim do dia. Mas o péssimo tempo e problemas nos motores do barco nos fizeram ficar quase três dias, sem instalações apropriadas e naturalmente quase todos enjoaram e passaram frio. O pior problema era estar a bordo de um barco sem condições de enfrentar um mar tão mal-humorado. Chegamos a ficar sem motor por alguns minutos, o Comandante Varella era açoitado por ondas de través e adernava perigosamente. Desembarcamos em Imbituba, muito aliviados e sem os pinguins.

    O episódio rendia muitas risadas cada vez que nos encontrávamos.

    Talvez algumas pessoas tenham opinião diferente do Valter Souza que perdemos nesta quarta-feira (05), mas se algo o marcou foi a profunda dedicação à comunicação, especialmente à televisão. Num trabalho da colega Maristela Amorim, está documentada sua participação na primeira experiência de TV do estado, a TV Florianópolis, que sequer registro tinha. Por conta disso, muitas vezes o chamava de ‘VT Souza’. Um homem chamado televisão.

     

    *Por Carlos Stegemann, jornalista

    **Foto: Da direta para esquerda: Carlos Stegemann (de boné), Valter Souza e o comandante do barco faroleiro